Euclides Roxo

        Euclides de Medeiros Guimarães Roxo nasceu em Aracaju, Sergipe, no dia 10 de dezembro de 1890 e faleceu no Rio de Janeiro, em 21 de setembro de 1950.

        Estudou no Internato do Colégio Pedro II, bacharelando-se em 1909. Em 1916, formou-se Engenheiro Civil na Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Em 1915 foi aprovado para professor substituto de Matemática do Colégio Pedro II. Posteriormente, após o falecimento do professor Eugênio de Barros Raja Gabaglia, foi nomeado professor catedrático. Em 1925, foi nomeado interinamente Diretor do Externato do Colégio Pedro II. Permaneceu no cargo até 1930, quando assumiu a diretoria do Internato. Ocupou tal cargo até o ano de 1935. Além disso, foi catedrático concursado do Instituto de Educação; diretor do ensino secundário do Ministério da Educação e Saúde, nomeado em 1937; participante do Conselho Nacional de Educação; membro da Comissão Nacional do Livro Didático e posteriormente Presidente dessa comissão. Na Associação Brasileira de Educação, atuou como sócio desde 1926, pertenceu ao Conselho Diretor, de outubro de 1929 até o mesmo mês de 1932 e participou da Seção de Ensino Secundário como membro e como Presidente.

        No final da década de vinte, impulsionado por movimentos internacionais de renovação do ensino de Matemática, iniciado no final do século XIX, e enquadrado no movimento da Escola Nova, Euclides Roxo, então Diretor do Internato do Colégio Pedro II, propôs uma mudança curricular e metodológica nesse colégio. Tais idéias baseadas principalmente nas idéias reformistas de Felix Klein haviam sido implantadas na Alemanha e vinham sendo veiculadas principalmente pelo IMUK, atual International Comission Mathematical on Instruction (ICMI). Segundo Schubring (1999, p. 29 – 30), “além desse ter sido o primeiro movimento internacional nesse sentido, foi também, na época, o único entre todas as disciplinas escolares”. E mais, a Matemática, “dentro das estruturas tradicionais, costumava servir como um paradigma para o pensamento lógico, de modo que os conceitos eram usualmente bastante elementares e os métodos de ensino enfatizavam os aspectos formais; a Matemática escolar tinha um caráter estático e desligado das aplicações práticas”. Daí a necessidade de uma reforma.

        Esta proposta representou uma profunda e radical mudança nos programas de Matemática do Colégio Pedro II. Euclides Roxo propôs a modificação de acordo com as principais características do movimento internacional de reforma – predominância essencial do ponto de vista psicológico; na escolha da matéria a ensinar ter em vista as aplicações da Matemática ao conjunto das outras disciplinas; e subordinação da finalidade do ensino às diretrizes culturais da nossa época – e a conseqüente unificação do curso em uma disciplina única sob a denominação de Matemática. Até então o ensino de Aritmética, Álgebra e Geometria eram ministrados separadamente. Essa reforma foi aceita e, posteriormente, homologada pelo decreto nº 18.564 de 15 de janeiro de 1929. A proposta de Euclides Roxo era implantar gradativamente tais mudanças, ou seja, em 1929 seria alterado apenas o primeiro ano do curso; em 1930 o segundo e assim sucessivamente, até todas as séries do ensino secundário estarem seguindo as novas orientações.

        Outra iniciativa de Euclides Roxo foi escrever a coleção Curso de Matemática Elementar. Já no primeiro volume, publicado em 1929, conseguimos ter uma idéia de quais foram suas influências: “Breslich forneceu o modelo de texto que Euclides Roxo achava apropriado para a escola secundária da época” e Felix Klein “forneceu a matriz de idéias educacionais”, que também moldaram Breslich. Essa coleção estabeleceu uma inovação na literatura didática, pois ela foi “pioneira e precursora, no quadro do ensino de Matemática do Brasil, na época”. E mais, esses livros incorporavam “aspectos que os educadores matemáticos de hoje consideram atuais, e que são mesmo bandeira de luta nas tentativas de renovação do ensino-aprendizagem da Matemática” (Carvalho, 2003). Por ser um texto completamente distinto dos compêndios até então existentes essa coleção despertou resistências. Algumas dessas oposições vieram de professores, como Ramalho Novo, Sebastião Fontes e Almeida Lisboa que criticaram publicamente os livros e as novas propostas.

        De acordo com o próprio Euclides Roxo (1929, p. 13), “Tanto aquele programa, como este compêndio, representam a primeira tentativa, feita no Brasil, para renovação dos métodos de ensino da Matemática, no curso secundário, de acordo com o movimento de reforma, cujas diretivas procuramos acentuar”. Além dessa coleção, ele escreveu, entre novembro de 1930 e março de 1931, uma série de artigos publicados no Jornal do Commercio, onde apresentou e fundamentou sua proposta para o ensino de Matemática.

        Em 1930, Francisco Campos assume o recém criado Ministério da Educação e Saúde. Em 1931, esse ministro reformula o ensino secundário, e na parte relativa ao ensino de Matemática, acata as idéias renovadoras de Euclides Roxo. Imposta de forma autoritária em todo o território nacional, tais mudanças geraram novas reações que partiram de várias forças nacionais: a Igreja, representada pelo Pe. Arlindo Vieira, o Exército, representado pelo Colégio Militar do Rio de Janeiro e, mais uma vez, Almeida Lisboa, professor catedrático do Colégio Pedro II. Essa reforma, acaba contrariando a proposta de Euclides Roxo, que era implantar gradativamente as mudanças no ensino de Matemática, visto que a partir de 1931 todas as séries do curso incorporavam os novos aspectos defendidos por ele desde 1929. A partir dessa reforma, a coleção Curso de Matemática Elementar foi extinta e Euclides Roxo passa a co-autor da coleção, já existente, Curso de Matemática com Cécil Thiré e Melo e Souza.

        Em 1934, Gustavo Capanema assume o Ministério da Educação e Saúde. Em 1936, esse ministro inicia os trabalhos para a elaboração do Plano Nacional de Educação, previsto pela Constituição de 1934 e que seriam elaborados pelo Conselho Nacional de Educação. Com o objetivo de recolher informações e estudos para a elaboração desse plano, Gustavo Capanema distribuiu um questionário que inquiria sobre todos os graus do ensino. Uma questão que despertou interesse dos educadores na época foi sobre qual a orientação deveria ser dada ao ensino secundário. Para debater esse problema, a Associação Brasileira de Educação, entre maio e agosto de 1937, promoveu uma série de conferências. Entre os conferencistas estava Euclides Roxo. No decorrer da sua exposição, ele apresenta as idéias sobre o ensino da Matemática no curso secundário, defendidas desde 1929, que haviam sido implantadas pela Reforma Francisco Campos, bem como suas origens. Em 1937, com o Golpe Militar, o Plano Nacional de Educação não foi posto em prática, permanecendo em vigor a Reforma Francisco Campos.

        Foi também em 1937, que Euclides Roxo, com suas idéias mais amadurecidas, escreveu o livro A matemática na escola secundaria. Nesse trabalho, ele expõe, de forma mais clara, o conteúdo dos artigos citados anteriormente e sistematiza suas idéias sobre o ensino da Matemática na escola secundária. Ele procurou caracterizar e indicar as principais tendências e diretrizes dos movimentos de reforma, tratando apenas dos problemas mais gerais e dos pontos mais característicos da Escola Nova em relação à Matemática. Na introdução do livro, ele afirma que o conteúdo exposto, não apresenta nenhuma idéia original e nenhum ponto de vista pessoal e define o livro como uma “simples apresentação de muitas opiniões abalizadas sobre as questões mais relevantes e de ordem mais geral, relativas ao ensino da Matemática” (Roxo, 1937, p. 6). Além limitando-se “a coordenar e, algumas vezes, a resumir os trabalhos alheios” (Idem, p.7). De fato, no início do livro, ele apresenta uma bibliografia com noventa e nove títulos obras sobre educação e ensino de Matemática.

        Euclides Roxo esperava que o livro pudesse “ser de alguma valia aos estudantes das nossas escolas de professores secundários”. Por isso, no final de cada capítulo, além das conclusões, ele apresenta algumas questões que serviriam à investigações “por parte dos alunos e discussões em aula” (Idem, p. 8). Esse fato pode nos revelar a preocupação de Euclides Roxo com a formação dos professores de Matemática.

        Apesar de Euclides Roxo definir, modestamente, a obra como um “insignificante trabalho”, o A matemática na escola secundaria é tido como um grande livro sobre Educação Matemática.

        Em 1939, Gustavo Capanema retoma os trabalhos sobre o ensino secundário e começa a organizar e reunir informações para uma futura reforma neste grau do ensino. Uma das propostas apresentada ao ministro, para o curso secundário, procedeu do Colégio Pedro II. Este estudo foi elaborado por uma comissão que tinha com relator, Euclides Roxo. Novamente, ele se faz presente no âmbito das discussões sobre a educação brasileira. Em 4 de abril de 1942, Gustavo Capanema promulga a Lei Orgânica do Ensino Secundário. Inicia-se então, a elaboração dos programas para esta reforma. Como nos mostram alguns documentos do arquivo pessoal desse ministro, Euclides Roxo esteve presente na elaboração dos programas de Matemática, fazendo parte oficialmente da comissão responsável pelos mesmos e lutando bravamente para preservar suas idéias. Apesar de Euclides Roxo observar na introdução do A matemática na escola secundaria, como já foi citado, que tais mudanças não se tratavam de nenhuma idéia original e nenhum ponto de vista pessoal, é nesta reforma que, o confronto de diferentes concepções, seu papel como educador e intelectual e os acontecimentos políticos o levaram a adequar e ajustar essas idéias.

        Dessa forma, podemos perceber que Euclides Roxo esteve informado sobre todas as discussões em âmbito mundial, sobre as inovações no campo educacional e sobre o que hoje consideramos como Educação Matemática, e lutou bravamente por uma mudança no ensino de Matemática, desde o final da década de 20 até o início da década de 40, do século XX, tentando levar a cabo suas propostas.

 


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